Filme Que gostei:
Uma Prova de Amor
Ana é uma garotinha que já nasceu com um propósito, salvar a vida da irmã mais
velha que está com leucemia. Para isso ela foi concebida com a ajuda da
medicina para que pudesse ser uma doadora compatível. E desde que nasceu
seus pais a usaram para prover o necessário para sua irmã. Agora esta
precisará de um transplante de rim e Ana sabe que, se o fizer, sua vida será
limitada. E se não o fizer, sua irmã morrerá. Mas sabe também que
sua irmã terá poucas chances de sobreviver, mesmo que o transplante dê certo.
A fim de evitar o transplante, Ana procura um advogado e entra com uma ação
contra seus pais, buscando uma emancipação médica, ou seja, poder ela mesma
tomar decisões sobre seu próprio corpo.
O filme tem uma trama muito bem feita. Não se trata apenas de uma luta de
uma jovem contra o câncer, mas o quanto esta luta afeta todos ao seu redor.
Enquanto assistia ao filme, me questionava sobre a atitude de Ana. Afinal
ela não deixa dúvidas sobre seu amor pela irmã. E isso leva ao
questionamento: até que ponto vale a luta e o sacrifício quando se sabe que já
não adiantará nada? E que decisão eu tomaria no lugar de Ana?
Um bom filme para se ver e pensar um pouco.
Filme que não gostei:
Ilha das Flores
O documentário “Ilha das Flores”, de Jorge Furtado produzido em 1989, é
de uma rara profundidade que exprime toda a banalização a que foi submetida o
ser humano, por mais racional que este seja. Um ácido retrato da mecânica da
sociedade de consumo. Acompanhando a trajetória de um simples tomate, desde a
plantação até ser jogado fora, o curta escancara o processo de geração de
riqueza e as desigualdades que surgem no meio do caminho. A lamentável condição
de sub-existência dos habitantes da Ilha das Flores deixa as pessoas pasmas. A ideia
do curta-metragem é mostrar o absurdo desta situação. Seres humanos que, numa
escala de prioridade, estão depois dos porcos. Mulheres e crianças que, num
tempo determinado de cinco minutos, garantem na sobra dos porcos (que por sua
vez, alimentam-se da sobra de outros seres humanos com condições financeiras de
escolher o alimento) sua alimentação diária.
A obra Ilha das Flores é rica em informações reais (às vezes chega a ter
um caráter didático), e ao mesmo tempo, segue a trajetória fictícia de um
tomate: plantado, colhido, vendido a um supermercado, comprado por uma
dona-de-casa, rejeitado na hora de fazer um molho para o almoço, jogado no
lixo, levado para a Ilha das Flores, rejeitado pelos porcos, e finalmente,
encontrado por uma criança com fome.
A desigualdade social e toda perversidade de um sistema são provocadas
justamente por seres humanos que procuram viver em seus casulos de forma
egocêntrica e egoísta, fingindo não ver a realidade da exploração do homem
sobre o homem, esquecendo-se da solidariedade e afeto entre seus semelhantes.
Daí a afirmação no início do curta da não-existência de Deus. Infelizmente,
explorar a miséria humana faz parte desse sistema, faz parte do “progresso
natural da sociedade”. Uma prova disso é que o diretor não precisava ir tão
longe para ver a crueldade e a miséria do homem, bastava colocar uma câmera em
sua janela de casa.
A noção de progresso é o anteparo
usado pelo filme para estabelecer propositalmente uma relação insolúvel na
sociedade capitalista. A capacidade criativa e o decorrente progresso são
conjugados com os diversos aspectos que envolvem a vida em sociedade. O lixo é
capaz de unir- e não separar como normalmente – a “parte limpa” com a “parte
suja” do filme. Logo, confirma-se uma incompatibilidade entre progresso e
desenvolvimento humano. O espectador sente o sabor da simples profundidade
sugerida pelo filme. É uma provocação ao raciocínio social imediato, à
propriedade privada, ao lucro, ao trabalho, à exploração, à relação entre
progresso criativo e, consequentemente, tecnológico (criação e evolução estão
intimamente ligados) e ao desenvolvimento social e humano. Passados quase vinte
anos após a sua produção, o curta ainda é bastante atual. O documentário é
narrado pelo ator Paulo José e foi aclamado pela crítica, vencendo vários
prêmios.
Por : Andreza das Chagas Arruda N°
02
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